Senso estético e funcional: a arte e a técnica no design.

No universo do design, a criação de projetos que são ao mesmo tempo esteticamente belos e funcionalmente eficazes é um processo que exige uma combinação de habilidade, estudo e experiência. Os designers dedicam suas carreiras ao desenvolvimento dessa capacidade, equilibrando aspectos emocionais e funcionais em suas criações. Esse equilíbrio não é acidental, mas sim resultado de uma habilidade treinada e adquirida através de um profundo conhecimento teórico e prática contínua

O Equilíbrio entre o Emocional e o Funcional

Criar peças que não apenas cumpram uma função prática, mas que também se conectem emocionalmente com o público é um desafio. Este equilíbrio é alcançado através de uma compreensão profunda de como os elementos visuais, formas, texturas e materiais influenciam a percepção e a emoção das pessoas. Ao dominar conhecimentos como teoria das cores, gestalt, elementos da sintaxe visual e processos produtivos, por exemplo, o designer pode evocar sentimentos específicos e criar uma atmosfera que ressoe com o público-alvo. A escolha cuidadosa da tipografia, a aplicação de hierarquias visuais e o uso planejado de espaços vazios,  também contribuem para uma comunicação clara e eficaz, ao mesmo tempo em que conferem personalidade e caráter aos projetos gráficos.

Diversas esferas de atuação

Os designers atuam em diversas esferas, cada uma com suas especificidades e desafios:
  • Criação de marcas: Desenvolver uma identidade visual que represente a essência e os valores de uma empresa, equilibrando estética e funcionalidade para garantir que a marca se destaque e se conecte com seu público.
  • Sistemas de sinalização: Projetar sinalizações que orientem e informem de maneira clara e intuitiva, aplicando princípios de hierarquia visual e legibilidade para facilitar a navegação em espaços públicos e privados.
  • Projetos editorais: Criar layouts para revistas, livros e jornais que sejam visualmente atraentes e que organizem a informação de maneira lógica e envolvente, utilizando tipografia, imagens e espaços em branco de forma estratégica.
  • Interfaces digitais: Desenvolver interfaces de usuário (UI) para sites e aplicativos que sejam intuitivas e agradáveis de usar, garantindo uma experiência do usuário (UX) eficiente e satisfatória.
  • Embalagens: Projetar embalagens que protejam o produto, informem o consumidor, cumpram as normas vigentes e sejam visualmente atraentes, equilibrando considerações práticas com um design esteticamente agradável e competitivo.
  • Design de Produtos: Criar produtos que sejam funcionais, esteticamente agradáveis e fáceis de usar, integrando a forma e a função de maneira harmoniosa para melhorar a experiência do usuário.

Referências Históricas: A Bauhaus

Para compreender a profundidade e a origem do design moderno, é fundamental olhar para influências históricas como a Bauhaus. Fundada na Alemanha em 1919, a Bauhaus é considerada a primeira escola de design do mundo. Ela integrou arte, artesanato e tecnologia, promovendo a máxima de que a forma segue a função. Este movimento enfatizou a importância da funcionalidade e da estética simplificada, princípios que ainda hoje orientam o design contemporâneo. A Bauhaus ensinou que um bom design deve ser acessível e funcional, sem sacrificar a beleza, e influenciou gerações de designers a buscar essa integração perfeita.

Dieter Rams e os 10 Princípios do Bom Design

Outro ícone do design que merece destaque é Dieter Rams, cujos trabalhos e filosofias têm moldado a prática do design industrial e de produtos e que podem facilmente ser aplicadas no design gráfico. Rams é conhecido por seus 10 princípios do bom design, que são:

  1. Inovador: O bom design apresenta novidades e avança a tecnologia.
  2. Funcional: Faz um produto ser útil. 
  3. Estético: O bom design é belo. 
  4. Intuitivo: Torna o produto compreensível. 
  5. Discreto: É modesto e deixa espaço para a autoexpressão do usuário.
  6. Honesto: Não tenta manipular o consumidor com promessas que não pode cumprir. 
  7. Durável: Supera tendências e modismos, permanecendo relevante. 
  8. Detalhado: Preciso até nos mínimos detalhes. 
  9. Ecológico: Minimiza o impacto ambiental. 
  10. Minimalista: Menos, mas melhor – concentra-se nos aspectos essenciais.

A importância da individualidade

Mesmo com teorias, regras e princípios fundamentais, é essencial que cada projeto mantenha sua singularidade. Infelizmente, em um mundo globalizado, é cada vez mais comum observarmos repetições nas escolhas de elementos, tanto no design gráfico, em produtos e até mesmo na arquitetura. Essa tendência resulta em projetos sem identidade ou personalidade própria, prejudicando a diferenciação, a originalidade e a conexão emocional com o público. A verdadeira essência de um projeto, seja uma identidade visual, uma interface ou um quarto de bebê, está em criar soluções únicas que reflitam as particularidades e diretrizes de cada contexto, permitindo que ele se destaque e cumpra seu propósito de maneira significativa e autêntica. A individualidade de cada projeto surge de um estudo contextual e dos objetivos específicos que ele busca atender, contemplando histórias, valores e características que devem ser evidenciadas.

Conclusão

O desenvolvimento do senso estético e funcional é uma prática intrínseca ao design. Designers aplicam um vasto conhecimento técnico e uma sensibilidade artística para transformar ideias em realidades únicas, impactantes e com objetivos definidos. Através do equilíbrio entre o emocional e o funcional, e utilizando teorias consagradas, eles criam projetos que não apenas se destacam no mercado, mas também se conectam de forma significativa com seu público. A influência de movimentos históricos como a Bauhaus e os princípios de Dieter Rams reforçam a importância de um design que seja ao mesmo tempo belo e prático, consolidando a credibilidade e a relevância desta profissão que tem se tornado cada vez mais essencial.

AUTOR

Marcos Medeiros

Designer e Gestor no Bem Design Studio